top of page

A Primeira Cruzada

O rei da França, Felipe I, excomungado mesmo, pouco se importou com as manifestações que ocorriam, e parecia mais preocupado em levar sua vida de luxúria enquanto seus secretários compravam tudo que podiam do povo que partia para a terra santa. O rei da Inglaterra, Guilherme, O Ruivo, ocupava-se em ampliar suas fronteiras. O rei da Alemanha, também excomungado, Henrique IV não se dispunha a obedecer ao Papa. E os reis escandinavos não se importavam com o que acontecia no sul.

 

Este era o cenário que Igreja de Urbano II encontrava naquele momento. Pedro, O Eremita, já tinha partido com seu exército do povo, enquanto a Igreja se preparava para diversos concílios. 

 

O Concílio de Placência... 

 

A questão de uma intervenção militar em Jerusalém foi levantada, mas a decisão final ficou para o Concílio que ocorreria em Clermont. Lugar seguro, por estar em terras do conde de Auvergne, que não temia Felipe I, que embora rei da França, tinha poder apenas entre Paris e Arlens. Aproveitando esse tempo, os príncipes, a pedido de Urbano II, abandonaram os reis e começaram as campanhas em todas as classes, que se mostraram solidárias. Assim o desejo de campanha militar contra os turcos, só se fez sentir nos príncipes de segunda ordem, que ocupavam em conjunto, lugar de extrema importância no sistema feudal. O Concílio de Clermont condena a guerra entre particulares, e o duelo judiciário, pregando a união de todos os cristãos, na defesa comum. No concilio, os embaixadores de Aleixo Comneno, o Imperador de Constantinopla, apresentaram os perigos a que se expunha o império Bizantino com a invasão dos turcos, e insuflaram os príncipes latinos a glória de vencerem os turcos pela posse do Santo Sepulcro. Usando as palavras de Pedro, o eremita. 

 

Discurso de Urbano II no concílio de Clermont de 1095, segundo Foucher (Fulquério) de Chartres (Cronista Cristão no tempo da primeira Cruzada):

 

"Meus queridos irmãos, 
ungido pela necessidade, eu, Urbano, com a permissão de Deus o bispo chefe e prelado de todo o mundo, vim até esse lugar na qualidade de embaixador, trazendo uma mensagem divina a todos os servos de Deus. 

Vim aqui com a esperança de os encontrar no serviço do Senhor, fieis e zelosos, como é de se esperar. Porém, se há alguma deformidade ou fraqueza contrariando a lei divina, invocamos sua ajuda e faremos o mais que pudermos para erradicar isso. Porque o Senhor os tem posto como criados em sua família. Felizes sereis se encontrares fileiras a vosso ministério. 

Somos chamados pastores, esmeramos em atuar como pastores, porém, sedes bons pastores. Sempre levando o povo em suas mãos. Não durma, apenas guardes todo o tempo o rebanho que assim o tem chamado. Porque se por vossa negligência vem um lobo e arrebata uma só ovelha, então, não sereis dignos da recompensa que Deus havia reservado para vós. E depois de haverem sido flagelados impiedosamente por vossas faltas, sereis oprimidos com as penas do inferno, a residência da morte. Sabeis-vos que foram chamados no evangelho de sal da terra (Mateus 5:13), porém, se faltarem a vossos deveres, como, se perguntaram todos, se poderá salgar a terra? Oh, que tão grande é a necessidade de sal!!! 

 

Em todo o caso, é necessário que vos se corrijam, dando o sal da sabedoria a todos aqueles ignorantes que estão entregues aos prazeres do mundo. Não vêem que o Senhor, quando quer dirigir-se a eles, os encontra putrefatos em meio aos seus pecados necessitados em se curar. Pois, se Deus encontra dentro deles vermes, a se saber, pecados, porque vossa negligência os deixou doentes. Os declarará com imprestáveis, merecedores unicamente de ser jogados no abismo onde se joga as coisas ruins. E já que vós, não podeis evitar ao Senhor estas graves perdas, seguramente, Ele os condenará e os afastará de sua doce presença. Pois aquele que administra o sal deve ser prudente, sábio, modesto, instruído, pacífico, observador, piedoso, justo, equilibrado e puro. 

 

Porque como pode o ignorante ensinar aos outros? Como pode o licencioso ser modesto aos outros? Como pode o impuro ser puro aos outros? Como pode alguém que odeia a paz acalmar os ânimos dos outros? E como pode alguém que esta manchado em sua mãos com a vilania limpar as impurezas dos outros? E bem disse as Escrituras que se os cegos guiam os outros cegos, todos iram a sarjeta (Mateus 15:14). Primeiro corrijas a vós para que assim livres de toda a culpa, poderem limpar aqueles que vivem abaixo de vossas jurisdições. 

 

Se quiserem ser amigos de Deus, o façam de boa vontade para Ele e para seu lugar. Em particular, deveis deixar que todos os assuntos da igreja se guiem pela lei da igreja. E tens cuidado em que a simonia (Tráfico criminoso de objetos sagrados, venda ilícita de coisas santas ou espirituais) não aches raízes em vós, não sejam como aqueles que compram e como aqueles que vendem (Investiduras) eles serão golpeados pelos açoites do Senhor entre ruas estreitas e serão logo levados para o lugar da destruição e da confusão. Mantendo a Igreja e o clero, em todos os seus agrados, completamente livres da influência do poder secular. 

Verifiquem que à parte da produção de terra que corresponde a Deus seja paga por todos; que esta não seja vendida e retida. Se alguém captura e retém um bispo, é permitido que o trate como um bandido. Se alguém seqüestra e rouba um monge, clérigos, monjas, seus serventes, peregrinos, mercadores, permitam que os considerem a anátema (Excomunhão). 

 

Deixai que os ladrões e os incendiários sejam excomungados junto com todos os seus cúmplices. Se um homem não é capaz de dar nunca uma parte de seus bens em donativo é castigado com as punições do inferno, como não vai ser castigado aquele que remove os bens dos outros? Por isso foi castigado o homem rico que fala o evangelho (Lucas 16:19) Não por ter removido os bens dos outros, senão por não haver empenhado corretamente os próprios. 

Vós sabeis e tem visto a grande desordem que estes crimes estão produzindo no mundo. És tão grande em algumas províncias, eu escutei, e tão débil é vossa administração de justiça, que dificilmente pode viajar de dia ou de noite sem ser atacado por ladrões, e sei que se estando em casa ou longe dela, sempre existe o perigo de ser despojado de seus bens ou por força ou por fraude. Por tanto, é necessário voltar a por em prática a trégua, como se conhece comumente, a qual foi instaurada fazem vários anos por nossos santos padres. Os exorto e exijo que cada qual se esforce para que se cumpra a trégua em suas respectivas dioceses. E se alguém for levado por sua arrogância a romper essa trégua, pela autoridade de Deus e com a aprovação dessa assembléia deve ser então declarado a anátema.

Embora, oh filhos de Deus, vos sabeis, prometeram mais firmemente que nunca manter a paz entre vocês e manter os decretos da Igreja, ainda existe um importante trabalho que devem realizar. Ungidos pela correção divina, devem aplicar a força de vossa retidão a um assunto que interessa a Deus. Posto que vossos irmãos que vivem no Oriente, requerem urgentemente as vossas ajudas, e vós deveis esmerar para prestar-lhes a assistência que a eles vem sendo prometida faz tanto tempo. Aí que, como sabeis todos, os Turcos e os árabes, os tens atacado e estão conquistando vastos territórios da terra de România (Império Bizantino), tanto no oeste como na costa do Mediterrâneo e em Helesponto, que é chamado o braço de São Jorge. Estão ocupando cada vez mais e mais os territórios cristãos, e já venceram sete batalhas. Estão matando e capturando muitos, e destruindo as igrejas e devastando o império. Se vós, impuramente, permitires que isso continue acontecendo, os fieis de Deus seguiram sendo atacados, cada vez mais com dureza. Em vista disso, eu, e não bastante, Deus, os designa como herdeiros de Cristo para anunciar em todas as partes e para convencer as pessoas de todas as gamas, os infantes e cavaleiros, para socorrer prontamente aqueles cristãos e destruir a essa raça vil que ocupa as terras de nossos irmãos. Digo isto para os presentes, mas também se aplica a aqueles ausentes.

 

Mais ainda, Cristo mesmo os ordena. Todos aqueles que morrerem pelo caminho, seja por mar ou por terra, em batalha contra os pagãos, serão absolvidos de todos seus pecados. Isso lhe é garantido por meio do poder com que Deus me investiu. Oh terrível desgraça se uma raça tão cruel e baixa, que adora demônios, conquistar a um povo que possui a fé de Deus onipotente e tem sido glorificado em nome de Cristo! Com quantas reprovações nos oprimiria o Senhor se não ajudarmos a aqueles, que como nós, professam a fé de Cristo! Façamos que aqueles que estão promovendo a guerra entre fieis marchem agora a combater contra os infiéis e conclua em vitória uma guerra que deveria ter se iniciado há muito tempo. Que aqueles que por muito tempo tem sido foragidos, que agora sejam cavaleiros. Que aqueles que estão pelejando com seus irmãos e parentes, que agora lutem de maneira apropriada contra os bárbaros. Que aqueles que estão servindo de mercenários por pequena quantia, ganhem agora a recompensa eterna. Que aqueles que hoje se malograram em corpo tanto como em alma, se dispunham a lutar por uma honra em dobro. Vejam! Neste lado estarão os que lamentam e os pobres, e neste outro, os ricos; neste lado, os inimigos do Senhor, e em outro, seus amigos. Que aqueles que decidam ir não adiem a viajem senão que produzam em suas terras e reúnam dinheiro para os gastos; e que, uma vez concluído o inverno e chegada à primavera, se ponham em marcha com Deus como guia."

 

 

A proposta de alistamento, todos gritaram : 

 

"Deus vult! Deus vult!" (Deus quer!). 

Os cristãos ficaram convencidos da justiça de sua causa e decidiram pela guerra. A partida foi então destinada para 15 de agosto de 1096. Proposta pelo Papa, para se distinguir o exército, uma cruz vermelha deveria ser costurada a roupa. Diz Urbano II "...a conselho do espírito santo."

 

A CRUZADA

 

Entre vários príncipes ilustres, o nome de Godofredo de Bouillon (1058 - 1100) foi escolhido para comandar o exército.

 

Descendente de Carlos Magno, pelo lado materno. Irmão do conde de Boulogne, e senhor de Bouillon em Ardennes. Um homem que já tinha mostrado sua força e coragem até contra a própria igreja, quando foi o primeiro a escalar os muros de Roma combatendo contra o Papa Hidelbrando (S. Gregório VII), quando servia ao rei alemão Henrique IV. E foi Godofredo que antes, matara Rodolfo com sua lança, o rei rebelde, que a igreja apoiara. (1080). Movido por um profundo arrependimento, Godofredo queria agora ser mártir pela libertação do Santo Sepulcro. Os chefes da Igreja viram neste guerreiro, um aliado poderoso e fiel. Dizem: "A prudência e a moderação temperavam seu valor. Sua piedade era sincera e cega."Seus irmãos, Eustáquio, o mais velho, e Balduíno, o mais moço, o acompanhavam. Quando a noticia da formação oficial da 1º cruzada se espalhou, o povo começou seus preparativos. 

 

Camponeses, mulheres e crianças partiram em marcha e os velhos aproveitavam a oportunidade de verem o santo sepulcro sob a proteção de um formidável exército.  Diziam eles aos guerreiros: "Vós sois valentes e fortes, combatereis; nós sofreremos como o Cristo e faremos a conquista do céu."

Como conseqüência, a mais imediata das cruzadas, as terras e os castelos, as ferramentas de trabalho no campo e o gado, baixaram extraordinariamente de preço pelo excesso de ofertas. Em compensação, as armas e os cavalos subiram a preços fantásticos.

 

Em vista da dificuldade que teriam para se manter uma formação numerosa, os príncipes acertaram de se encontrar nos arredores de Constantinopla. Até ai cada um mantinha como melhor pudesse a sua gente. Godofredo atravessou a Alemanha, que ele conhecia bem, quase em linha reta. 

 

O fabuloso exército contava com os Príncipes: 

 

- Godofredo de Bouillon - Duque de Lorena que trouxe 80.000 de infantaria e 10.000 cavaleiros. (Seu ataque resultou na conquista de Jerusalém. Foi proclamado rei de Jerusalém, mas preferiu ser denominado como o "Protetor do Santo Sepulcro" após a queda da cidade em 1099. Era visto como um grande cavaleiro e muito devotado ao cristianismo. Fundou uma ordem chamada Prioré de Zion - Priorado do Sião.)

 

- Boemundo (Bohemundo) da Sicília -  Príncipe de Trento, governador do sul da Itália, que trouxe 20.000 de infantaria e 10.000 cavaleiros.

- Roberto - Duque de Flandres

- Hugo (Hugh) - Duque de Vermandois - Irmão mais moço do Rei de França.

- Roberto II - Duque da Normandia, filho de Guilherme, o conquistador, vendeu o reino e o ducado à seu irmão e partiu para a cruzada.

- Estevão - Conde de Chartres

- Estevão - Conde de Blois - (Casado com Adela, Filha de Guilherme, o conquistador. Desertou na Primeira Cruzada).

- Raimundo de Saint Gilles - Conde de Toulouse

- Raimundo - Duque de Marbona

- Raimundo - Marques de Provença 

 

Na fronteira com a Hungria, os húngaros lembrados muito bem o que Pedro, o Eremita e seu povo fizeram, quiseram impedir a passagem de Godofredo. Ele bem que podia ter atravessado a força, porque seu exército era muito mais forte. Mas, sua virtude fez com que pedisse desculpas pelos excessos cometidos pelos seus irmãos. Pediu humildemente a passagem livre e mantimentos, ao preço corrente de mercado. Enquanto Godofredo e seu irmão iam entregar-se ao rei Carlos da Hungria como garantia. Godofredo conteve a ferocidade de seus cruzados em território húngaro sob pena de morte. Atravessada a Bulgária, Godofredo foi pela Dalmácia e a Sclavonia. 

 

Mas os cruzados enfrentariam o mesmo problema da Hungria em Constantinopla. Os papéis se inverteram e os cruzados eram agora, mais temíveis que os turcos. Alexis Comneno quis também lhe impedir a passagem. A presença de Boemundo de Tentro que ele muito bem conhecia, o fez mudar de idéia. O mesmo aconteceu com Hugo, Duque de Vermondois que ficou prisioneiro de Alexis, como garantia de seus soldados se comportarem na cidade. Mas Roberto da França, que aprendeu a lidar com situações difíceis com seu pai, Guilherme, o conquistador. Obrigou a libertá-lo. 

 

Boemundo indignado com as atitudes do imperador, queria que Godofredo depusesse Aleixo Comneno. Godofredo não somente resistiu a fazer-lhe a vontade, como conseguiu que os cruzados prestassem homenagem ao imperador bizantino. Além de tudo, fez-lhe uma promessa de devolver-lhe todas as terras que perdera aos turcos. 

 

Depois dessa intrincada missão diplomática, a travessia marítima foi feita sem problemas. E na primavera de 1097, os cruzados entram na Ásia. Formavam um exército de 100.000 cavaleiros de elmo e cota (armadura/malha metálica com que se cobria o corpo), seguidos de 400.000 infantes, sem contar padres, monges, mulheres e crianças. A travessia do deserto foi mais difícil...

 

"...Os homens mais robustos deitavam-se na areia, cavavam a superfície ardente para encontrar mais abaixo o solo fresco e nele colar à boca ressequida. Os próprios animais não resistiram... Podia-se rir ou chorar, como se quiser, vendo que por falta de bestas de carga, carregávamos as bagagens sobre carneiros, cabras, porcos e cães. Viu-se mais de um cavaleiro montar um boi a guisa de cavalo de batalha."

Tomaram Nicéia e ganharam uma batalha desesperada na Frígia (Batalha de Ascalon, ganha dos Muçulmanos). Quando os cruzados chegaram a Antioquia, e preparavam para sitiar a cidade, apenas dois dias depois, foram surpreendidos pelo exército de Kerboga, sultão de Mossul. Desesperados e com fome esgotaram rapidamente seus mantimentos, e os cruzados se viram obrigados a abaterem seus cavalos e outros animais, ratos e cães, e dizem, até a comer a carne dos turcos, que para eles eram apenas animais. Estavam destinados ao fracasso, quando Raimundo, o Conde de Toulouse recebeu um pobre padre provençal chamado Pedro Bartolomeu, que lhe disse que o apóstolo André lhe tinha aparecido em sonhos e lhe dissera que uma relíquia capaz de trazer a vitória aos cruzados - a lança que traspassara o flanco de Jesus crucificado - estava enterrada no solo de uma das igrejas da cidade. (de Petrus) 

 

Raimundo seguiu o homem até a igreja que indicava e mandou escavar o solo. Doze homens escavaram o dia todo, enquanto milhares de cruzados esperavam no lado de fora. Perto do Crepúsculo, o próprio Pedro desceu à escavação e voltou trazendo na mão a lança sagrada. Uma enorme ovação saudou sua reaparição. Quando os cruzados avançaram, precedidos da lança sagrada, mostraram-se irresistíveis. 

 

Comandava-os Boemundo, graças ao seu incomparável talento militar e à fé fanática dos seus homens, as numerosas forças de Kerboga foram postos em debandada. No campo turco abandonado, encontraram víveres e bebidas em abundância. Que lhes garantia a estadia prolongada ao sítio de Antioquia, depois de oito meses de luta, tomaram a cidade que resistira desesperadamente.

 

A vitória de Antioquia (1098) foi em todos os tempos celebrada como a mais admirável ação de todas as cruzadas, mas custou aos cruzados a fina flor de suas tropas. A devastação pela guerra, pela fome, pela peste, e as deserções, acabaram reduzindo o exército primitivo a 40.000 homens, apenas.

 

Em junho de 1099, os cruzados chegaram em Jerusalém, em lágrimas beijavam o solo. Em uma primeira investida, as grossas muralhas e as torres da cidade, contiveram as tropas de Godofredo. Sendo obrigado a empregar um cerco. Os soldados sofriam com o calor e pegavam a água do rio Jordão neste meio tempo foram construídas máquinas de arremesso e torres móveis. Mas os sitiantes contavam com menos lanças que os sitiados. O cerco durou 30 dias. No dia 13 de julho com as máquinas prontas, os cruzados tentaram mais uma investida. E depois de dois dias de batalha furiosa, no dia 15 de julho de 1099, uma sexta-feira santa, os cruzados tomaram Jerusalém.

 

"...Alguns jovens acenderam flechas e lançaram-nas abrasadas sobre os colchões que guarneciam os redutos que os Sarracenos tinham construído a frente da torre de madeira que os cruzados haviam erguido. Esses colchões estavam cheios de algodão. O fogo pôs em fuga os que defendiam essa obra fortificada. Então o duque e os que com ele se achavam reconstruíram imediatamente a sebe que recobria a parte anterior da torre de madeira, desde o cimo até o meio, e, tendo feito uma espécie de ponte, lançaram-se intrepidamente para penetrar em Jerusalém. Todos os outros subiram atrás deles. Como os nossos se achavam de posse da muralha e das torres, viram-se coisas admiráveis. Entre os Sarracenos, uns tinham a cabeça cortada, o que era para eles a sorte mais suave. 

 

Outros, atravessados por flechas, viam-se forçados a saltar do alto das torres, outros ainda, após prolongados sofrimentos, eram entregues as chamas e consumidos por elas. Viam-se nas ruas e nas praças montes de cabeças, de mãos, de pés. Infantes e cavaleiros abriam caminho através dos cadáveres. Mas tudo isso era pouco. No templo e no pórtico de Salomão, nadava-se no sangue, até o joelho, dos cavaleiros e até as rédeas do cavalo. Justo e admirável o julgamento de Deus, que desejou recebesse aquele lugar o sangue dos que blasfemaram contra Ele, conspurcando por tanto tempo esse território." 

Godofredo e seus cavaleiros entraram no Santo Sepulcro com a cabeça descoberta, pés descalços, vestidos de estamenha (tecido grosseiro de lã) e banhados em lágrimas. 

 

Os judeus foram queimados vivos em suas sinagogas. Todos os prisioneiros foram mortos incluindo, mulheres e crianças. E as ruas de Jerusalém tiveram que ser lavadas para limpar o sangue. O saque foi colocado em monte comum, benefício dos sobreviventes e recompensa. Os cruzados agora senhores de Jerusalém, escolheram para seu rei o homem que os conduziu bravamente. Mas Godofredo, declarou que não lhe seria possível aceitar a coroa de rei, onde Cristo a tivera de espinhos, aceitou o título de barão e defensor do Santo Sepulcro e assumiu a soberania de um novo reino "O Reino Latino de Jerusalém". Seguindo o modelo do ocidente, o novo reino foi dividido em feudos. Godofredo codificou leis e costumes feudais que deviam servir de legislação para o reino de Jerusalém com o nome de Assizas, pelo qual é conhecido. 

 

O patriarca da igreja grega fugiu imediatamente e as paróquias do novo reino aceitaram a liturgia latina e a supremacia do papa. O califa do Egito considerando perigosa a estadia dos cristãos em Jerusalém marchou contra Godofredo, mas foi vencido. Godofredo de Bouillon morreu aos 42 anos, em 1100 de uma moléstia desconhecida. Tendo governado apenas um ano, e nem esse mesmo completo, deixou seu irmão Balduíno que o sucedeu. Houve quem atribuísse a sua morte a um veneno que lhe teria sido ministrado por um emir. A Primeira Cruzada custou à vida de 500 mil cristãos. Foucher de Chartes escrevia, após a tomada da Terra Santa."Nós nos tornamos orientais. O habitante de Reims ou de Chartres transformou-se em Sírio ou em habitantes de Antioquia. Já esquecemos os nossos lugares de nascimento. Um possui já neste país casas e servidores como se os tivesse herdado; outro casou-se, não com uma compatriota, mas com uma síria, uma armênia ou mesmo uma sarracena convertida... Servimo-nos, alternadamente, das diversas línguas do país, e a confiança aproxima as raças mais afastadas. Realizam-se as palavras da Escritura: 

O leão e o boi comerão na mesma manjedoura."

Copyright © Capítulo "Santos"

Sob os Auspícios do Supremo Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil
Rua Almeida de Moraes, Nº 13, Santos - SP

Patrocinado pela A.·.R.·.L.·.S.·. "Estrela de Santos"

  • Facebook - White Circle
Feito por Pedro e Lucas Galante
bottom of page